A magia da bola
Data de publicação: 24/06/2014
A magia da bola e sua origem sagrada
A Copa do Mundo de Futebol de 2010 celebra os 80 anos da primeira competição, ocorrida no Uruguai em 1930. O Brasil não é só o detentor do maior número de títulos, com cinco vitórias, como também o único país a participar de todas as Copas. Isso talvez possa ser explicado pela paixão brasileira, ainda que a bola não seja uma invenção nacional.

Um símbolo de transcendência
O círculo, a esfera, a mandala são tidos por povos e culturas de todos os tempos como referência simbólica dos ciclos eternos dos tempos, das estações, da vida na natureza e, ainda, do mistério da existência humana e da morte.

As civilizações do Novo Mundo, antes da devastação europeia, praticaram por séculos um jogo denominado pelos colonizadores espanhóis de la pelota. Foi uma prática sagrada associada a uma simbologia de manutenção da ordem cósmica, da fertilidade da terra e da estrutura política e social teocrática das cidades. Pode-se dizer que simbolizou o jogo de forças entre os deuses da vida e da morte.
O sul do México e a América Central conservam sinais de presença humana há cerca de 20 mil anos. Com o passar do tempo, os clãs coletores, pescadores e caçadores se estabeleceram em aldeias, organizaram cidades, criaram religiões, leis e ciências, inclusive a escrita, a matemática, o cálculo, a arquitetura, a astronomia e o calendário.
A civilização comprovadamente mais antiga na região foi a olmeca (1500-200 a.C.), cujo nome significa “povo da goma”, dos termos náhuatle: olli (goma), e mecatl (estirpe). De fato, seus sábios conheciam a produção de borracha. Outras civilizações de grande esplendor foram os zapotecas, os mixtecas, os toltecas, os tarascos e, por fim, os astecas e os maias, que deixaram mais de 1.500 centros cerimoniais sepultados na floresta por centenas de anos e descobertos nos últimos dois séculos.
A batalha das divindades
Algumas grandes metrópoles como Tikal, Xochicalco, Cacaxtla e Chichen Itzá conservam sinais do jogo da bola na cultura maia com datas comprovadas entre os anos 200 a.E.C. (antes da Era Comum) e 1200 E.C. Chamado em língua maia de Ti Pitziil, ou bola que pula, o jogo fez parte de ritos associados à mitologia da criação e dos mistérios da vida e da morte; e, ainda, do sacrifício humano indispensável para a continuidade da existência.

Vários elementos do Popol Vuh elucidam o ritual de Ti Pitziil. Uma das narrativas míticas diz que os gêmeos Hun Hunahpu e Vucub Hunahpu, fi lhos dos velhos deuses do céu, Ixpiacoc e Ixmucané, perturbaram os senhores de Xibalba, o mundo subterrâneo, porque faziam algazarra com uma bola de borracha, muito perto do horizonte, à beira do abismo que dava passagem para o mundo subterrâneo.
No intuito de se livrarem dos importunos jovens celestiais, os deuses inferiores os convidaram a vir jogar no subterrâneo. Os gêmeos aceitaram o desafio e venceram a primeira partida com os senhores da morte, que, irados, os jogaram em uma caverna cheia de morcegos onde Hun Hunahpu teve a cabeça decepada por um dos ferozes animais. Na partida seguinte, Vucub Hunahpu enfrentou sozinho os adversários, que usaram em lugar da bola a cabeça de seu irmão. Estarrecido e confuso, o jovem foi derrotado no jogo e também decapitado.

Mito e vida se entrelaçam
Muitas hipóteses explicam o simbolismo encerrado no jogo e ainda conservado nas ruínas maias, seja em estelas de pedra, no alto e baixo-relevo de paredes junto aos altares, como em vasos e outros utensílios de cerâmica e, ainda, no texto tardio Popol Vuh. A luta de adversários parece representar a luz e a escuridão, a chuva e a seca, a vida e a morte. A ideia de morte e renascimento do sol, frequente nas religiões antigas, ajuda a elucidar a importância do jogo da bola na organização social e religiosa dessas civilizações.
Os estudiosos das primeiras culturas do Novo Mundo, ao verem cenas esculpidas em pedras, retratando a decapitação de um atleta e o sacrifício de outras vítimas, cujo coração é elevado ao alto, no cimo da pirâmide-altar, divergem nas opiniões. Alguns acreditam que os sacrifícios humanos tenham sido reais e constantes e outros preferem pensar que as antigas figuras refletem apenas os personagens do mito narrado no Popol Vuh.
Certo, porém, é que a competição com uma bola de borracha capaz de saltar à grande altura caracterizou essas civilizações e certamente foi motivo de emoção, temor, alegria e frustração para muitos, não tão diferentes do que ocorre nos dias atuais com referência ao futebol.
Pesquisa interdisciplinar
Tema: A origem sagrada da bola• Após a leitura do texto “A magia da bola e sua origem sagrada”, sugerir aos alunos que pesquisem sobre atividades semelhantes:
• Kemari e Tsu-chu, no Japão;
• Episkuros na Grécia;
• Harpastum em Roma.
• Na China, mais de 4 mil anos atrás os militares usavam bolas de couro em treinamentos.
• No Egito as crianças se divertiam com bolas.
A seguir, encontrar pontos de aproximação entre os jogos e ritos sagrados antigos e as emoções, temores, esperanças que se estabelecem entre o povo brasileiro durante a Copa do Mundo.
Fonte: Diálogo 58 - Mai/2010
Postado por: Diálogo
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