Professoras por paixão e competência
Data de publicação: 01/06/2016


Há quanto tempo vocês lecionam Ensino Religioso?
Josefa – Leciono há nove anos. Atualmente trabalho em turmas da 5ª série do ensino fundamental ao 2º ano do médio, em três colégios no Rio Grande do Norte, sendo dois em Natal e um na cidade de Currais Novos.
Vicência – Eu estou na disciplina há cinco anos e também tenho a semana repleta, trabalho com 20 turmas de 5ª a 8ª série, na cidade de Marimbondo, no interior de Alagoas.
O que as motivou a escolher a disciplina Ensino Religioso?
Josefa – Comecei a convite da Escola Jesus Menino, de Currais Novos. Na sala de aula, entusiasmei-me pela disciplina, ao constatar que o professor de Ensino Religioso pode ir muito além, na educação integral do ser humano. Hoje sou tão apaixonada por essa área do conhecimento a ponto de me deslocar do Rio Grande do Norte e vir a São Paulo à procura de mais direcionamentos e mais luzes em minha profissão.
Vicência – Fui atraída pela forma plural com que o Ensino Religioso trata os conteúdos e pela possibilidade de trabalhar sem proselitismo e envolver os alunos em temas que suscitam seminários e debates que resultam em significados novos para suas vidas.
O entusiasmo de vocês é próprio de quem não desiste na primeira dificuldade?
Vicência – Sim. Elas existem. A principal é a falta de oportunidades de qualificação dos professores, de material didático específico e fontes de pesquisa e de recursos para a disciplina.
Josefa – Concordo com a professora Vicência. As dificuldades acompanham nosso cotidiano. O Ensino Religioso ainda não é reconhecido como disciplina nem é integrado nos projetos interdisciplinares. Falta ainda muito a fazer na elaboração e na divulgação dos parâmetros curriculares, para que eles sejam visíveis e específicos na escola.
Mas ainda assim existem avanços, não é?
Josefa – Sem dúvida, e a passos largos. No Rio Grande do Norte há um longo caminho percorrido. Na verdade, o passo inicial foi dado na década de 1970, quando a Secretaria Estadual de Educação organizou uma equipe defensora da causa do Ensino Religioso. Desde essa época, abriram-se caminhos até chegarmos à proposta curricular, aos cursos e à elaboração dos projetos pedagógicos que temos atualmente. Esses têm sido recursos eficazes que nos ajudam a não abaixar a cabeça na luta pela identidade do Ensino Religioso.

Em tanto tempo de prática, que experiências vocês destacam?
Vicência – Lembro o envolvimento das turmas de 8ª série com a pesquisa, o estudo e as variadas formas de apresentação das diversas tradições religiosas. O trabalho despertou o melhor aos alunos, e os resultados foram ótimos.
Josefa – O que me deixa feliz é o resultado. Os alunos, na sua pluralidade de pertença a religiões ou Igrejas diferentes, aprendem a interagir nas atividades propostas pelo Ensino Religioso sem nenhum preconceito e, muitas vezes, um conteúdo abordado avança para além da escola e suscita assunto na família. Os pais, admirados, agradecem no dia da reunião de pais.
A experiência de vocês mostra que é necessário crer que o sonho é possível. O que vocês sonham para o professor de Ensino Religioso?
Josefa – Sim, o sonho a gente constrói. Estou aqui, no curso de pós-graduação, construindo o meu. Desejo que todos os professores tenham acesso aos cursos de licenciatura em Ensino Religioso e se habilitem de fato em sua profissão. Mas espero que o próprio professor saiba conquistar seu lugar de direito na escola: seja sujeito que arregace as mangas, defenda a convivência das diferenças e o respeito, não fuja de conflitos e procure ver nos desafios as possibilidades de avançar.
Vicência – Meu sonho se estende a todos os colegas. Espero ver o Ensino Religioso reconhecido como disciplina específica e implantado em todas as escolas, para assim interagir com as outras disciplinas, em prol dos objetivos comuns da educação.
Com tanta experiência, convicção e sonhos, o que vocês dizem aos colegas leitores da Diálogo?
Josefa – Queridos colegas, no contexto pluralista da cultura brasileira, não esqueçamos que a base para o Ensino Religioso é conviver com o diferente. É inserir-nos no processo educativo da escola na qual trabalhamos e contribuir para que a educação recupere e resgate o “ser gente”. Assim, podemos nos tornar um ponto de referência para quem luta por um mundo justo, fraterno, solidário e unido. Nossa maior tarefa na escola é sermos educadores sensíveis e comprometidos com a causa que escolhemos.
Vicência – O que tenho a dizer é que somos eternos aprendizes. Vamos lutar por conhecimento sempre mais abrangente e profundo e assim teremos mais firmeza e argumentação para desenvolver nossa disciplina na escola. Na dúvida ou dificuldade, não esqueçamos que a dúvida é sempre sinal de conhecimento. Muito obrigada, revista Diálogo, por esta oportunidade!

Obrigado a você, professora Vicência! E a você, professora Josefa, pelo testemunho compartilhado. O brilho das pérolas que são vocês engrandece a revista Diálogo e valoriza a confiança e o apreço que recebemos de nossos leitores!

– Quanto mais a gente estuda mais toma consciência de que nada sabe!
– Isso mesmo, professor. Por isso eu estudo o mínimo possível. Não quero acabar totalmente ignorante.
A língua evolui!
Na aula de Ciências:
– Lalá, como se chama a água boa para beber?
– Água garrafável, professora.
– Como? Você quer dizer água potável?
– Isso se dizia antigamente, quando a água era guardada em potes.
Fonte: Diálogo 42 - Maio/2006
Postado por: Diálogo
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Nas duas últimas décadas, verifica-se significativo avanço da violência no contexto internacional e brasileiro, desvelando um cenário que se manifesta em diferentes espaços e contextos.

A educação atual passa por uma crise de valores, práticas pedagógicas e formação docente, o que causa nos professores um enorme desgaste emocional.

Um dos principais desafios enfrentados pelo Ensino Religioso é a falta de conhecimento claro de sua identidade e objetivo, por parte dos familiares dos alunos que, não raro, temem ver seus filhos alvos de discriminação ou de proselitismo.