Famílias que se entreolham
Data de publicação: 26/08/2013
Padre Zezinho, scj*

Este ou aquele grupo ainda é sistólico, fechado e avesso a encontros, mas a maioria dos grupos e movimentos da Igreja tem buscado o diálogo.
No caso da Pastoral Familiar, da qual participam dezenas de grupos e movimentos, fica bem clara esta postura de famílias que se entreolham.
Nem poderia ser de outra forma, posto que a riqueza da Pastoral Familiar, vivida pelos vários carismas nos mais diversos países do mundo, é para a Igreja uma bênção e um bem incalculável. A família foi sempre carente de ajuda. Viver a dois nunca foi fácil.
Sem ascese familiar, o casal não persevera. E a ascese costuma ser caminho exigente!
Parceria bem-vinda – Casais do meio popular, das favelas, dos subúrbios conhecem uma realidade.
Os do campo, outra. Os dos edifícios e das vilas e assentamentos, outra. Há os ricos, os pobres, os extremamente carentes, os cultos e privilegiados com alta escolaridade, os de pouca leitura mas de muita vivência, os mais místicos, os mais intelectuais, os de um ou dois filhos, os de sete a dez..
E há o casal que conhece a fundo a violência, as drogas, as dores do sexo, as dores do amor e da vida. Médicos, advogados, psiquiatras, psicólogos e tantos outros especialistas entendem que sua formação acadêmica e cristã pode contribuir para a reflexão dos católicos sobre a realidade da família católica e da família brasileira.
Eles conhecem as dores e as esperanças do seu tempo. Estudaram. O sacerdote que também estudou sua Igreja e tem algo a dizer aos casais já não se surpreende com o que os casais têm a dizer a ele e à diocese. São homem e mulher que geraram vidas, conhecem o trabalho, a competição, as duras leis do dinheiro, do poder e da sobrevivência. Além disso, por serem leigos, eles estão lá onde o padre não está.
Mas é mútuo. Se os ministros da fé são cultos, se os religiosos o são, ao lado desses profissionais leigos dedicados à causa número um da Igreja, a parceria se torna cada dia mais profunda. Eles viram. Eles sabem! Sem dúvida a parceria é mais do que bem-vinda: é fundamental para uma Igreja merecer o nome de Igreja do Cristo, Mãe e Mestra de um povo.
Nos já conhecidos documentos sobre a família, e nos excelentes compêndios como os Lexicons e os Enchyridions já publicados em diversas regiões do mundo, a Igreja mostra sua preocupação diante das mudanças que atualmente afetam a família. Se, por um lado a família se revela forte, ela tem flancos altamente vulneráveis. Assediada por todos os lados, encurralada, sitiada por fatores econômicos, por veículos de comunicação invasores e seletivos, a família cristã não poucas vezes se vê sem voz nem vez.
Quando certa mídia, em mãos de outras correntes de pensamento, aborda temas vitais como aborto, eutanásia, divórcio, clonagem, manipulação do embrião, raramente consulta as lideranças de movimentos familiares católicos ou evangélicos. A experiência de 2 mil anos de Igreja não conta... Fala da família católica, mas nem sempre deixa a família católica falar naqueles veículos. Somos, então, constrangidos a ter nossos próprios meios. Mas nem nos nossos próprios meios se vê a voz forte dos movimentos familiares. Poucas lideranças de casais são vistas no rádio e na televisão católicos. Se são porta-vozes de movimentos de família, deveriam ser mais ouvidos, até porque em seus quadros há casais preparados e competentes e, quanto nos consta, a perseverança da Igreja passa pela família.
Sinais positivos – Documentos da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) falam com profundidade do matrimônio e da família, mas nem sempre eles chegam ao povo. Por isso, a importância dos congressos de famílias. São diversos movimentos de Igreja que se entreolham, cada qual desejoso de aprender mais sobre suas famílias.
As constantes mudanças de visão da sexualidade, do casamento, do homem, da mulher, dos filhos, da moral pública e da moral doméstica; os grandes desafios atuais, sobretudo as drásticas mudanças sofridas nestes últimos decênios de imenso poderio da mídia; o número de filhos, que hoje volta a ser como há 11 mil anos; a nova relevância da mulher; a perplexidade do homem; a questão homo-hétero; as autoproclamadas novas famílias; a quebra de vínculos; a dessublimação do amor conjugal; tudo isso tem sido bem analisado. Mas são leituras que nem sempre chegam às famílias.
Vem daí a importância de casais que se entreolham e contemplam juntos os filhos para aprenderem um com o outro a ler a nova geração, os novos tempos, as novas Igrejas, a nova economia, os novos jogos de poder do mundo.
No meu livro Da família sitiada à família situada, Editora Paulinas, falo de leituras e olhares. Os casais de agora, por conta do excesso de comunicação que os esmaga, perderam a leitura dos painéis. Está cada dia mais difícil ler os filhos. Na era dos megatelescópios e da nanotecnologia nunca foi tão bonito criar um ser humano, mas nunca foi tão desafiador. Sitiados por todos os quadrantes e flancos, milhões de famílias se desestabilizam e desconjuntam. A fé, os encontros e o estudo têm sustentado as que conseguem se situar. Há sinais positivos no horizonte: as famílias estão se estudando!
Fonte: Família Cristã 905 - Mai/2011
Postado por: Família Cristã
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