Grafite, minas e manos na cena
Data de publicação: 16/04/2018

Por, Jucelene Rocha
A arte das ruas que veio das periferias conquistou simpatia popular, promove inclusão social e não foge de polêmicas
A arte das ruas que veio das periferias conquistou simpatia popular, promove inclusão social e não foge de polêmicas
Já se passaram 30 anos desde que as primeiras intervenções artísticas em grafite começaram a se destacar em São Paulo. Com mensagens críticas traduzidas em formas, cores e muita criatividade, a prática do grafite humanizou as ruas e rapidamente se espalhou por todo País, ao mesmo tempo em que estabeleceu algumas polêmicas. Afinal, grafitar e pichar são a mesma coisa? Esse tipo de intervenção urbana pode ser identificado como arte? Existe limite para a apropriação artística ou contestatória no espaço urbano?
Há diversas maneiras de olhar para as intervenções realizadas por grafiteiros ou pichadores. No campo antropológico, as pichações, que são rabiscos e letras, também têm seu valor. Podem demarcar território ou manifestar um posicionamento crítico perante as normas vigentes na sociedade ou nas instituições. Rabiscar muros é uma forma milenar de expressão; os romanos faziam isso, os gregos também. É uma maneira secular de expressar o que não é dito por nenhum outro meio, uma forma de falar da vida da cidade para todos, letrados ou não.
Há diversas maneiras de olhar para as intervenções realizadas por grafiteiros ou pichadores. No campo antropológico, as pichações, que são rabiscos e letras, também têm seu valor. Podem demarcar território ou manifestar um posicionamento crítico perante as normas vigentes na sociedade ou nas instituições. Rabiscar muros é uma forma milenar de expressão; os romanos faziam isso, os gregos também. É uma maneira secular de expressar o que não é dito por nenhum outro meio, uma forma de falar da vida da cidade para todos, letrados ou não.

O prefeito de São Paulo, João Doria sancionou, recentemente a Lei Municipal 16.612/2017, motivada pelo programa Cidade Linda. Apesar de reconhecer o grafite como manifestação artística e cultural, a legislação penaliza com sanções e multas tanto grafiteiros como pichadores. “As duas leis não criminalizam o grafite, mas a grande dificuldade é a seguinte: a lei municipal exige que os grafiteiros tenham autorização do proprietário do imóvel, seja ele público ou particular, para que sua ação seja reconhecida como uma manifestação legal. A lei reconhece o grafite como expressão artística, mas cria limitações. Ou seja, temos aí mais uma nova polêmica no campo da apropriação dos espaços urbanos”, explica Lílian Pires.
A necessidade de autorização impede que o grafiteiro possa escolher livremente o local para estampar sua arte. Esse aspecto tem sido alvo de inúmeros protestos, sobretudo dos artistas, que enxergam essa exigência como uma barreira à sua liberdade de expressão. A grafiteira Carolina Teixeira, 33 anos, que integra os Coletivos Punga Crew, Fala Guerreira e Periferia Segue Sangrando, entende as complexidades em questão com a popularização do grafite, como algo natural: “Arte ou não, feito no ‘vandal’ ou legalizado... Acho que depende muito do contexto e do posicionamento de cada pessoa. O grafite, a arte de rua, está em movimento, em constante construção e sendo alimentada por diversas contradições. As várias versões podem conviver, e acho que essa complexidade é muito fértil”, afirma.
Para o grafiteiro Humberto Biagi Miner, 24 anos, integrante do Coletivo Holokausto Urbano Crew, as normas restritivas impostas pela Prefeitura de São Paulo ferem a essência do grafite, que é justamente pintar em locais que não foram feitos para esse fim. “Penso que qualquer tipo de restrição é no mínimo contraditória e, por isso, a repercussão no geral é negativa, pelo simples fato de que as medidas não foram tomadas com embasamento e discussão popular, e sim pelo fato de o gestor do momento se achar no direito de julgar como e aonde o grafite deve ser executado”, conclui.
Sobre o papel dos poderes públicos nesse cenário, Carolina Teixeira é enfática: “Acho que o Estado não deve atuar no sentido estrito de propor uma curadoria do que seja arte urbana, e sim promover ações pedagógicas ou apoiar iniciativas comunitárias, coletivas e autônomas. Acho que inserir uma lógica do mercado da arte só cria hierarquias desnecessárias, valoriza o centro da cidade em detrimento da periferia, gourmetiza o grafite e promove a criminalização de linguagens, como a pichação, que não entra no cânone do que é bonito ou aceito socialmente. A rua não tem curadoria!”.

Grande parte dos artistas que estão na cena do grafite atualmente iniciou sua atuação em projetos socioculturais nas periferias. Muitos continuam atuando nesses espaços e compartilham com outros jovens as próprias experiências e habilidades artísticas. “Eu faço parte do Projeto Coração. Lá ministramos oficinas para os alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental Vinicius de Moraes, fortalecendo a cena do bairro, fomentando e trazendo mais artistas para essa área que, consequentemente, vem sendo cada vez mais revitalizada”, conta orgulhoso, Humberto Biagi Miner.
Essa é a história também do Laércio Andrade Serafim, 29 anos, criador e idealizador do Coletivo Ruaz Crew e da Associação Cultural Positividade, em Teresina (PI). Ele teve contato com o grafite aos 15 anos, em uma oficina que aconteceu na escola. “Na ocasião era muito dedicado a desenhos influenciado pela era dos desenhos animados japoneses. Nessa oficina, tive meu primeiro contato com o universo do grafite e suas vertentes. Hoje promovo oficinas e intervenções que vão além das pinturas. Nós acolhemos quem tá chegando agora na cena. Este ano vamos promover o segundo festival de grafite Ruaz Crew em Teresina.”
Fonte: Fc edição 976, Abril de 2017
Postado por: Família Cristã
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