Arrastado amarrado pelo pescoço e preso a um cavalo, Gregório Bezerra foi um dos primeiros presos políticos exibidos nas dependências da Casa de Detenção, suplício que ele conheceria pela primeira vez em 1917. Exemplo de como tratariam os comunistas e o patrimônio da cidade. Francisco Brennand, escultor e artista plástico, enxergava no monumento um palácio de cultura voltado ao povo. Os que tomaram o poder, viram nele a boa e velha masmorra.
Projetada pelo engenheiro recifense José Mamede Alves Ferreira, a casa é um monumento inspirado no “panóptico radial” e é uma das maiores construções do século 19. Idealizado por Jeremy Bentham, jurista e filósofo inglês do século 18, o panoptismo consistia numa revolução arquitetônica e social, enquadrando o crime como uma quebra do contrato social. Tratava, então, de reparar o dano, no compromisso de reinserir o indivíduo na sociedade e evitar que ele voltasse a quebrar o contrato social. No plano arquitetônico, teve por modelo construções circulares, com uma torre de vigília que permitia a observação de todos os inquilinos. E foi aplicado, também, em manicômios, escolas e fábricas do século 19. É baseado nesses conceitos que José Mamede Alves Ferreira, também responsável pelas obras do Teatro de Santa Isabel, idealiza a Casa de Detenção, que serviria de modelo para estancar as revoluções que assolavam Pernambuco, a exemplo das de 1817 e 1824. Ao invés de circulares, três pavilhões para os presos e um menor para a administração carcerária, formando uma cruz. No plano arquitetônico, seguiu bem os conceitos de Bentham. No plano social, nunca teve o mesmo sucesso. A construção teve início em 28 de janeiro de 1850. Cinco anos depois, com a conclusão do raio norte, das casas de administração e da guarda e da muralha com guaritas e portão de entrada, em 29 de abril de 1855, começaram a chegar os primeiros presos, oriundos da antiga Cadeia da cidade, responsáveis por uma tentativa de fuga em massa. Em 1860 seria concluído o raio sul e em 1867 o raio leste.
Em 1973, sob o decreto do governador nomeado Eraldo Gueiros, a Casa de Detenção é fechada; e os presos, transferidos para cárceres mais afastados dos olhos gerais do povo. E sua história de torturas e repressão é gradualmente apagada da memória da sociedade. As muralhas inexpugnáveis foram abaixo. Ficaram pórticos e guaritas. O belo pátio externo serve de estacionamento de carros, nem todos de propriedade de visitantes da Casa da Cultura. As celas abrigam artesanato; e os corredores, um pouco de arte. É possível vislumbrar os dois gigantes painéis de Cícero Dias expostos na confluência dos pavilhões. Em 14 de abril de 1976, é reaberta à sociedade como Casa da Cultura de Pernambuco, um cadafalso ao projeto de Brennand para a cidade.
É em sua essência um mercado de artesanato, sem o charme e a originalidade dos mercados públicos recifenses, visitado principalmente por turistas estrangeiros e muito distante do cotidiano sociocultural da população. Entre o pavor de sua história e o fascínio produzido pela sua arquitetura, vive como um elemento disposto mais aos turistas que a Pernambuco. Ao jovem e ao velho, ao estudante, ao trabalhador, pouco fala, tanto é muda. O artesanato não é outro que o mesmo vendido nos corredores do Mercado de São José, embora um dos mais belos do Brasil. O preço, talvez nem tanto diferente.
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